Eu quero um amigo. Mas não qualquer tipo de amigo. Eu quero
um amigo de cabelos brancos e idade avançada, que já não tenha medo do escuro e
muito menos da opinião dos outros, que me conte histórias tristes e aventuras
hilárias, que me mostre o lado bom de alguma coisa e me ensine a ser paciente
sem deixar de correr atrás do que quero.
Um amigo que saiba ouvir e não tenha medo de aprender, assim
como tenha pretensão de ensinar algo bobo, mas valioso. Alguém que incentive as
risadas idiotas e as reflexões necessárias.
Sabe, eu quero um amigo que me conte como era a vida antes
da tecnologia, antes da TV e talvez antes da eletricidade. Que me faça querer
ter minhas memórias e que estas sejam felizes e emocionantes, mas sobretudo não
enfadonhas. Que me indique boas músicas e excelentes livros, que discuta
política, futebol, religião e modos de se conseguir a felicidade.
Não quero alguém que me conte dos netos e bisnetos, e sim
quem me conte sua biografia e suas aventuras, seus antigos anseios e atuais
esperanças e me fale sua previsão (otimista) do futuro. Mas além disso, que me
faça querer tornar essa previsão real.
Eu quero um amigo sem preconceitos e com uma vontade enorme
de aprender e conhecer coisas inteiramente novas ou até mesmo parcialmente
conhecidas já.
Um amigo que me conte piadas e que queira ouvir as minhas.
Que ouse aconselhar-me e me deixe não seguir seus conselhos. Que ouça minhas
críticas e nem sempre as leve em consideração. Que ouça minhas opiniões e
comente-as, que me desafie quanto às minhas crenças e posicionamentos.
Mas que além de tudo saiba ser amigo e me permita sê-lo
também. E que faça com que essa cabeça dura, amoleça e esse coração já frio,
aqueça.
Eu quero um amigo. Mas não qualquer tipo de amigo...
Viviane Lamperth